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1 ano atrásno
Por
Pedro CarlosUma análise realizada por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com pesquisadores alemães e norte-americanos, revelou resultados promissores sobre a aplicação de terapias celulares em pacientes com Covid-19. O estudo, que foi divulgado na revista Frontiers in Immunology, concluiu que o uso dessas terapias reduziu o risco de óbito pela doença em 60%. Os dados foram coletados de 195 ensaios clínicos conduzidos em 30 países no período de janeiro de 2020 a dezembro de 2021.
Nos últimos anos, as terapias celulares avançadas, também conhecidas como abordagens terapêuticas celulares, vêm ganhando destaque como alternativa no enfrentamento de diversas enfermidades, especialmente o câncer.
De maneira geral, essas técnicas visam reintroduzir células saudáveis no organismo do paciente, buscando restaurar ou modificar conjuntos celulares específicos. Outra estratégia adotada é a modulação da função de grupos celulares comprometidos por meio da infusão de novas células ou produtos celulares.
Nesse contexto, é possível empregar tanto células-tronco do próprio indivíduo (autólogas) quanto derivadas de um doador (alogênicas). Essas células podem ser cultivadas ou modificadas externamente antes de serem administradas ao paciente.
Conforme revelado pela pesquisa, os tipos celulares mais frequentemente empregados nos ensaios clínicos voltados para o tratamento da Covid-19 foram as células estromais ou tronco mesenquimais multipotentes (originárias do tecido conjuntivo), células natural killer (originárias de linfoblastos) e células mononucleares (derivadas do sangue). Elas representaram 72%, 9% e 6% dos estudos, respectivamente.
O professor Otávio Cabral-Marques, coordenador da pesquisa e integrante da Faculdade de Medicina da USP, destaca que as terapias celulares têm avançado consideravelmente nos últimos anos, sendo aplicadas no tratamento de doenças como câncer, condições autoimunes, enfermidades cardíacas e infecciosas. Ele enfatiza que, durante a pandemia, essas terapias foram empregadas em diversos ensaios clínicos para tratar a Covid-19. O estudo em questão é pioneiro ao reunir dados dispersos globalmente e realizar uma meta-análise, um método estatístico que combina informações de diversos estudos independentes, para avaliar a eficácia dessas terapias no combate à nova doença, além de suas implicações para os problemas de saúde causados pela Covid-19.
Desde o início da pandemia, destaca-se a relevância da terapia com células-tronco e os modelos de organoides derivados dessas células como uma nova abordagem no tratamento e estudo da Covid-19. Isso ocorre porque as células-tronco, especialmente as células-tronco mesenquimais, têm apresentado um notável poder de regulação imunológica e funções de reparo tecidual.
Em relação aos pulmões, por exemplo, os ensaios clínicos demonstraram que as terapias celulares avançadas têm a capacidade de reduzir a resposta inflamatória severa em pacientes infectados pelo SARS-CoV-2, resultando na diminuição de lesões pulmonares. Assim, a melhora da função pulmonar é um dos objetivos dessas terapias, desempenhando um papel benéfico no combate à fibrose, entre outros efeitos positivos.
Apesar da atenção recebida por essa abordagem, Cabral-Marques destaca a importância de reforçar os efeitos protetores reais da vacinação. Ele ressalta que, embora as terapias celulares avançadas possam se consolidar como tratamento auxiliar significativo para pacientes afetados pela Covid-19 no futuro, a prevenção da doença por meio da vacinação permanece como a forma mais eficaz de proteção.
Padronização dos Dados
Os ensaios clínicos relacionados à terapia celular avançada para a Covid-19 foram realizados em 30 países, com destaque para Estados Unidos, China, Irã e Espanha. No entanto, esses estudos apresentaram uma grande heterogeneidade, abrangendo variações tanto no número de participantes quanto nos desenhos e metodologias adotadas.
Diante desse cenário, a equipe de pesquisadores adotou medidas para realizar a meta-análise. Eles curaram os dados a serem analisados por meio do banco de dados Cell Trials Data, incluindo informações de fontes nacionais, enquanto excluíram dados duplicados ou incorretos, como falsos positivos.
Os autores do estudo enfatizam que também houve variação nas etapas dos estudos. Em muitos países, sobretudo na Europa, a terapia celular humana é estritamente regulamentada, limitando a quantidade de produtos terapêuticos disponíveis. Consequentemente, 56% dos estudos sequer avançaram para a fase 2 dos ensaios clínicos, que envolvem pacientes e têm como objetivo determinar a segurança a curto prazo, a dose-resposta e a eficácia dos produtos. Além disso, 31% dos ensaios clínicos analisados não contavam com grupos de controle.
Igor Salerno Filgueiras, doutorando e coautor do artigo de revisão, destaca que para chegar ao valor de redução de risco de morte, foi necessário considerar os resultados e particularidades dos diversos estudos, realizando correções e estimativas.
Dennyson Leandro M. Fonseca, bolsista de doutorado da FAPESP e integrante da equipe, avalia que existem técnicas para padronizar esses dados, eliminando vieses e obtendo uma visão imparcial. Isso permite chegar a conclusões que, frequentemente, passam despercebidas em um estudo isolado, mas, quando fortalecidas por outras análises, ganham relevância científica.
O artigo também destaca que os estudos que adotaram células mesenquimais apresentaram métodos de fabricação e administração clínica altamente diversos.
O resultado reforça a importância dos produtos de terapia celular como terapia auxiliar no manejo da Covid-19 e suas complicações. No entanto, enfatiza a necessidade de controlar os principais parâmetros de fabricação desses produtos para garantir a comparabilidade entre os estudos, afirma Cabral-Marques.
O estudo Systematic review and meta-analysis of cell therapy for Covid-19: global clinical trial landscape, published safety/efficacy outcomes, cell product manufacturing and clinical delivery pode ser lido em: www.frontiersin.org/articles/10.3389/fimmu.2023.1200180/full.
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